quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Namorado.




Tem coisa melhor?
Creio que esta seja uma das grandes satisfações da vida. Tudo ganha cores, aromas...
Creio também que é possível ser feliz sozinho, mas é uma felicidade com um espaço em branco...


" Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namoro de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas, namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente
treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado, não é que não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas: de carinho escondido na hora em que passa o filme: de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d’agua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos e musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo, e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada, e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uam névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteira: Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enloucresça. "


(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Contra o clichê.

color splash Pictures, Images and Photos

"Se não foi,não era pra ser".

Ok. Se não foi, é porque alguém impediu ou não quis que fosse, certo?
Fácil jogar toda a responsabilidade para o destino..mas quem é que faz o nosso destino, se não nós mesmo?

Tudo na vida se resume a fazer escolhas, absolutamente, tudo.E para escolher uma opção, é preciso abrir mão de outra.

O resultado? Só mesmo o tempo para mostrar. Bom seria se o tempo mostrasse também como teria sido se nossas escolhas tivessem sido outras.
Confesso que essa é uma das dúvidas que perduram em minha vida. "Como teria sido se eu tivesse feito tal escolha?" "Como teria sido se eu tivesse ficado onde estava?"

Queria poder ter o direito de ver esse "filminho". Mas seria assustador ver que talvez eu tenha feito alguma escolha errada ou precipitada.
Minha vida sempre foi feita de extremos. Nunca houve saída muito fácil, caminho iluminado ou meio termo. Sempre que fiz um escolha, abri mão de algo muito valioso, ou que faria toda a diferença na minha vida.

Será que eu poderia estar melhor..ou ainda...poderia estar pior?
Sempre segui meus impulsos, instintos e meu coração. Por vezes até com um certo receio, sim, mas sempre segui.

Eu sei que já deixei para trás coisas que nada vai fazer voltar, e isso me assusta tanto..mas ao mesmo tempo vejo que tudo teve um fundamento, nada foi em vão.

Cresci, amadureci, apanhei um bucado da vida, mas estou aqui. Firme, forte, um tanto quanto descrédula, porém, de cabeça erguida. Mas me imaginava diferente quando me projetava há anos atrás. Imaginava pessoas que sempre estariam ao meu lado e hoje já não vejo mais. Me imaginava com a vida resolvida em praticamente todos os aspectos, e hoje, por vezes me vejo com as mesmas dúvidas que carregava como cruz no auge da minha adolescência.

E se tivesse sido ?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pescoço em degraus.



Grosseria.
Detesto grosseria. Grosseria gratuita, então? Aff...nem se fala!
Mas creio que a pior das grosserias que possa vir a ser enfrentada no dia-a-dia, é a grosseria no trabalho. Sim, porque quando é assim, ou se engole "no seco", ou então, cái fora!
Chefe grosso, alguém merece? Sim, alguém deve merecer, mas esse alguém não sou eu.
Eu tenho um tipo de ímã para chefes grosseiros, e somente um eu "enfrentei", digo "enfrentei" entre aspas, porque após uma grosseria das grandes, simplesmente fui embora e nunca mais voltei. Nem sei se fiz certo. Hoje vejo que deveria ter ficado, falado poucas e boas e aí sim ter partido. Mas não queria me trocar, não queria mais confusão. No fim das contas, ainda saí como a "filha da puta" da estória, porque, pelo fato de tomar a decisão de me calar, a outra pessoa tomou a decisão de falar o que bem quis. Mas foi melhor assim.
Hoje é diferente. A situação é outra, mas ainda assim, convivo vez ou outra com essas situações chatinhas de trabalho. Adoro o que eu faço. Mas é assim...
É difícil encontrar uma pessoa que ocupe um cargo de chefia e seja humilde e fale educadamente com subordinados. Diante disso penso que o pré-requisito para ser chefe ou dono de algo, é saber pisar nos outros, usar "pescoço como degrau", e por aí segue.
Eu nunca vou ser chefe..afinal, não sei ser assim com as pessoas e as poucas tarefas que a minha humilde função me permite delegar à alguns, eu peço tão delicadamente que a impressão que tenho é de que as pessoas cumprem porque eu sou "boazinha".
Mas prefiro assim. Não quero cargas e mais cargas negativas vindo em minha direção cada vez que falo ou mando alguém fazer algo, pois é isso o que acontece. Por mais que seja sem intenção, mas é isso o que acontece.
Não me é inerente a idéia de humilhar alguém. Se já o fiz algum dia foi sem querer, sem perceber, ou sei lá! Mas acho que nunca o fiz.
É ruim engolir sapos...mas é isso o que o capitalismo causa em várias pessoas..certo?
Sem dinheiro não se vive..e se com trabalho já tá difícil...não gosto nem de imaginar como seria sem.

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sobre o tempo.



Como se escrever fizesse simplesmente as palavras proferidas se concretizarem, criarem vida e saírem andando. Não, elas não se concretizam e muito menos saem andando. Elas permanecem, ecoando no fundo da mente por repetidas vezes. Por vezes,me dominam e me dão a impressão de que são, sim, reais.

Um filme que se passa por mil vezes na cabeça, tem o poder de me fazer voltar no tempo e sentir aromas, texturas, ruídos..tudo tão nítido e real que, quando "volto à realidade", parece que o tempo não passou. Mas ele é implacável e não perdôa.
Só o que me consola é saber que ele é assim para todos. É uma das poucas coisas que restaram que não se compra com dinheiro. A vida se compra, um orgão vital se compra (erroneamente, mas se compra), mas o tempo, não.

Olhando fotografias antigas, vejo como pouco a pouco o tempo age sobre meus traços. Isso me assusta. Talvez até mais do que deveria. Mas me assusta no sentido de que eu vejo que resta "pouca vida" para tantos feitos que ainda desejo realizar. Não tenho medo de rugas. Quero ser uma senhorinha muito vaidosa e perfumada. Sou a favor de um botóxzinho de leeeve, bem de leve...nada á lá Ana Maria Braga ou Elza Soares. Cadê as expressões? O que é uma pessoa sem expressão? Praticamente um boneco.

Vejo que por mais que o tempo passe, as palavras perduram e insistem. Daí o tal ditado : "Uma vez proferida a palavra, não tem mais volta." Ela pode até ser amenizada com outras, mas voltar, não volta mesmo!

Já falei coisas sem pensar. Sei que proferi palavras que até hoje fazem sangrar a ferida de alguém.. Mas isso serviu para que eu aprendesse a tentar medí-las melhor. Ainda sou impulsiva, cabeça dura, cabeça quente, mas creio que já consegui evoluir um pouco nesse sentido, mas sei que ainda há muito o que evoluir.
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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Amiga Solidão



Não tinha que ser assim. É preciso controlar a situação.
Fiz tudo o que pude e até muito além...
Um trago num cigarro e tudo volta. É o gosto da solidão presente.
Ela se esconde, mas sempre esteve aqui comigo. Muda, calada, apenas esperando o momento certo do ataque. Quando me vejo mais fragilizada, mas vulnerável, mais confusa.
Ela é uma companheira, de tão presente, assim se faz. E mesmo que "outras solidões" me sigam, é ela que sempre me vai ser fiel. Até o fim.
Enganação achar que havia acabado, se no momento de maior sufoco, olho para os lados e é ela quem vejo por lá.
Por tantas vezes procurei teu rosto. Onde estava?
Foi preciso o mundo dar tantas voltas para que as coisas ficassem como eu queria que ficassem...
Mas hoje os tempos são outros e eu já não posso voltar atrás.
Não é justo...
É o toque, o ruído do sorriso, o jeito de fechar os olhos ao sorrir. O cheiro da pele e da respiração.
Mas e as dores, os desamores, os horrores?
E os outros rostos que fizeram parte disso tudo?
Existe algum vão no mundo no qual podemos atirar as lembranças ruins?
Não, não existe. Esse vão existe em mim e será eterno, assim como a solidão me acompanha.
Hoje a dor é controlável e o sofrimento também. Se em outrora parecia que morreria a cada palpitação maior, a cada ausência, a cada não. Hoje sei que sou maior. Mas foi preciso muito tempo e paciência para entender isso.
Ninguém merece meu desespero. Ninguém merece meus olhos inxados e úmidos.
Não páro para pensar em consequências, pois nos únicos e poucos momentos que parei para fazê-lo me vi completamente imersa em pensamentos turvos, os quais eu não podia controlar.
Vou seguindo, vou levando. E a "eterna amiga" segue comigo, mesmo que por vezes, disfarçada.




"A saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver."


{Saudade, Pablo Neruda}


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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sapos ?



Quantos sapos você já beijou?
Desses, quais você achou que era O príncipe ?
Ainda inventam essa do tal príncipe...
Desde cedo idealizamos uma pessoa perfeita.
Quando foi que se estabeleceu isso?
Quanta pretensão querermos alguém perfeito se estamos tão distantes disso!
Eu já acreditei em príncipe. Sim. Já acreditei.
Só deixei de acreditar quando constatei que aquele que eu tinha elegido "príncipe", estava tão longe dessa realidade quanto eu de ser uma princesa.

E quanto a perfeição ? Deve ser chato ser perfeito. (se é que existe alguém que assim possa ser denominado)
Nunca me denominei perfeita, ao contrário. Sou chata, reclamo de tudo, quero tudo do meu jeito, e se achar ruim, ainda faço bico!
Mas vejo que, hoje, o que muitas vêem como um "príncipe", é aquele cara que tem posses, um bom emprego, o carro do ano, é lindo, músculos...
É...prefiro um príncipe "desencantado" então...



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1 - Não faço questão que a pessoa tenha dinheiro, mas sim que seja trabalhadora e limpinha e talz.

2 - Beleza é efêmera.

3 - Não curto músculos.

4 - Carro é bom do ponto de vista da praticidade e do conforto, sim. Mas não no sentido da vaidade.
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Se o termo é "encantado", é porque o cara tem que ter o tal do encanto! É o jeitinho de mexer nos cabelos ou como ele observa um mínimo detalhe que mudou em você, ou simplesmente o fato de ele dizer que você está linda, mesmo você estando toda suada e descabelada depois de ter feito faxina em casa. o.O

Eu não quero o homem que todas queiram (definitivamente, não!). Eu quero o homem que eu quero e ponto..!

Desde criança, achava que seria fácil crescer, achar uma grande amor, casar e ter filhos. Eu não sabia o longo caminho que percorreria entre uma coisa e outra. O quanto seria complicado "crescer". Ainda penso, até hoje, no que vou ser quando for gente grande, e não sei se isso é normal.



"Todos já amamos, mas só sabemos que não é amor de verdade quando tudo acaba. E se não existir um cara? Ou dois, ou três, ou quatro, ou cinco? E se o amor de verdade não existir e estivermos com medo de admitir isso? Nós nos produzimos, fingimos ser algo que não somos, viramos nossa vida do avesso e nos perdemos em algo que sonhamos ser melhor do que o que achamos que somos. E se aquilo que procuramos simplesmente não existir? [...] Por que tudo tem que ser tão... apenas tão?"
(Amor ou amizade - 2000)